Pedro, o Romano: novo Papa na profecia de São Malaquias terá pontificado atribulado

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Pedro, o Romano: novo Papa na profecia de São Malaquias terá pontificado atribulado

Após a morte de um Pontífice, como sempre acontece, volta-se a especular sobre as profecias que prognosticam o nome do Papa seguinte e as características do seu pontificado. Uma delas, a de São Malaquias, velha de cerca de 9 séculos, tem sido uma das mais citadas. Ela diz que o papado estaria destinado a terminar em 2027 com um último Papa chamado Pedro. Pelo menos três possíveis papabili (papáveis) têm esse nome.

O velho mote espanhol “Yo no creo em brujas, pero que las hay las hay”, não acredito em bruxas, mas não duvido que elas existam, deveria ser neste momento pronunciado em inglês, dado o frenesi com que o público e a mídia britânicos – e também em outros países da Europa – consomem especulações proféticas sobre o advento do novo chefe católico que ocupará o lugar de Francisco.

O desaparecimento de Bergoglio e a iminência, nos próximos dias, de um conclave para eleger um novo pontífice, deram novo fôlego sobretudo à “profecia de Malaquias”, uma previsão de quase mil anos atrás (embora alguns historiadores a considerem falsa, provavelmente uma falsificação criada no final do século 16, com o objetivo de influenciar as eleições papais daquele período). Segundo o texto, atribuído a São Malaquias, arcebispo de Armagh, que viveu no século 12 na Irlanda, o papado estaria destinado a terminar em 2027 com “Pedro, o Romano”. Esse detalhe foi alardeado há poucos dias em grande matéria de análise publicada pelo jornal britânico Daily News, destacando que três dos nove cardeais mais citados como possíveis sucessores de Bergoglio têm, de fato, o nome Pedro. Depois disso, segundo a profecia, viriam o Dia do Juízo e o fim do mundo (pelo menos, como preferem alguns comentaristas mais prudentes, o fim do mundo como o conhecemos).

Publicado pela primeira vez em 1595 por um monge beneditino, o documento, originalmente intitulado Prophetia Sancti Malachiae, contém 112 breves lemas em latim que descreveriam todos os papas a partir de Celestino II, eleito em 1143, até hoje. Algumas interpretações sustentam que o texto indica como “ponto médio” o ano de 1585, e portanto, após 442 anos de previsões, 2027 seria o ano final da profecia. E o último lema, de caráter bastante enigmático, afirma: “Na última perseguição da Santa Igreja Romana reinará Pedro, o Romano, que apascentará seu rebanho em meio a muitas tribulações, ao final das quais a cidade das sete colinas será destruída e virá o temido Juízo Final, o Fim.”

O Daily Mail destaca que atualmente três dos potenciais aspirantes ao pontificado têm Pedro como nome de batismo: o cardeal Pietro Parolin, atual secretário de Estado do Vaticano, candidato papabile em absoluto; Peter Turkson, cardeal de Gana; e o cardeal húngaro Peter Erdő. Quem leva a sério a profecia, comenta o tabloide londrino, espera que um desses três se torne “Pedro, o Romano” e que o mundo passará por tremendas transformações vinte meses após a morte do papa Francisco, entre guerras, desastres climáticos, crise alimentar mundial e colapsos econômicos.

No entanto, além do fato de que profecias desse tipo não têm base científica, alguns historiadores colocam em dúvida a autenticidade do documento. Arnoldo Wion, o beneditino francês que em 1595 foi o primeiro a mencionar a “profecia de Malaquias”, não indicou onde estava o manuscrito original nem como teria entrado em contato com ele. Segundo a reconstrução fornecida em seu livro Lignum Vitae, o bispo de Armagh teria viajado a Roma em 1139 para ser recebido pelo papa Inocêncio II; durante a visita, teria tido uma visão dos futuros pontífices, transcrito a visão e entregue o documento ao papa, que o teria depositado no arquivo secreto do Vaticano, onde teria permanecido até sua redescoberta, mais de quatrocentos anos depois, por Wion.

Apesar dessas dúvidas, e do fato de que as profecias carecem de aval científico, para o grande público em todo o mundo permanece até hoje o fascínio pelas visões proféticas, o desejo de conhecer o futuro. No que diz respeito ao elenco dos papas católicos, além da profecia de Malaquias, existem muitas outras – famosas ou menos conhecidas – que falam sobre o futuro Papa ou sobre os tempos finais da Igreja. As principais são:

1. Profecias de São João Bosco

O santo italiano do século 19 teve visões chamadas “os sonhos de Dom Bosco”. Em uma famosa visão, ele descreve a Igreja como um navio atacado por inimigos, que se salva ancorando-se a duas colunas: uma representando a Eucaristia e outra representando Maria (Nossa Senhora).

A propósito de Dom Bosco, ele nunca esteve no Brasil, mas fez uma profecia que muitos acreditam se referir diretamente à futura cidade de Brasília – e essa ligação é amplamente comentada, especialmente no meio católico. A profecia de Dom Bosco sobre Brasília aparece num dos seus sonhos proféticos, datado de 30 de agosto de 1883, e está registrada nos seus escritos. Dom Bosco disse: “Entre os paralelos 15 e 20 haverá uma terra prometida, de imensas riquezas, e onde surgirá uma grande civilização. Esta terra será incomparavelmente rica. Essa riqueza será maravilhosa no futuro.” Essa região mencionada — entre os paralelos 15º e 20º de latitude sul — corresponde exatamente à localização de Brasília, que foi fundada mais de 70 anos depois, em 1960. Juscelino Kubitschek, presidente responsável pela construção de Brasília, era devoto de Dom Bosco. Um dos principais santuários da capital é o Santuário Dom Bosco, que tem vitrais azuis impressionantes e está ligado à congregação salesiana (fundada por Dom Bosco). O sonho profético é citado como uma das inspirações espirituais para a construção da cidade.

2. Profecia de Nossa Senhora de La Salette (1846)

Uma aparição mariana aprovada pela Igreja, na França, fala de uma grande apostasia (abandono da fé) e de um Papa que sofrerá muito. Também menciona um tempo em que os santos Pedro e Paulo intervirão para escolher um verdadeiro Papa, em meio a confusão espiritual.

3. Terceira Parte do Segredo de Fátima (1917, revelado em 2000)

Irmã Lúcia descreveu uma visão em que um “Bispo vestido de branco” (entendido como o Papa) caminha por uma cidade em ruínas, reza pelas vítimas e acaba sendo morto por soldados. Muitos interpretam que pode se tratar de uma metáfora de perseguições severas contra a Igreja e o Papa no futuro.

4. Profecias de Anna Maria Taigi (1769–1837)

Esta mística italiana disse que haveria um tempo de grande caos e escuridão, seguido por um Papa santo que renovaria a Igreja.

Ela descreveu também um período de purificação dolorosa antes dessa renovação.

5. Visões do Padre Pio

Existem relatos atribuídos a Padre Pio (embora nem todos oficialmente reconhecidos) onde ele fala de três dias de escuridão e grande sofrimento na Igreja, mas também de um triunfo espiritual com a liderança de um futuro Papa muito fiel.

Além desses, muitos outros escrutinadores do futuro, como o célebre Nostradamus, ao longo dos séculos fizeram prognósticos que contêm pontos convergentes e outros bastante contraditórios. No geral, as especulações sobre a sucessão dos papas futuros divergem. Mas convergem ao indicar que o próximo ou futuros Papas enfrentarão grandes dificuldades: perseguições, apostasia, guerras, mas também um período de renovação da fé após provações severas. Convergem também ao reconhecer uma inquietante visão: as fortes tribulações pelas quais o mundo e a humanidade passarão no “final dos tempos”, o final da nossa era histórica. Um encerramento caracterizado por guerras e outros conflitos, desastres naturais, fome e epidemias.

O interesse do público pelas profecias não é de hoje. A invenção da imprensa moderna, com a publicação da Bíblia de Gutenberg em 1455, contribuiu para a disseminação de profecias, crenças e falsificações por toda a Europa: uma história que se repete a cada inovação tecnológica na comunicação, como acontece hoje com a internet e as redes sociais.

Brasil 247

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